A promessa de um futuro corporativo mais diverso e inclusivo parecia estar em curso. Agora, em 2024, estamos vendo grandes empresas recuando em suas políticas D&I
O movimento de Diversidade e Inclusão (D&I) nas empresas ganhou força principalmente em 2020, após o assassinato de George Floyd nos Estados Unidos. O impacto global desse episódio gerou uma enorme pressão social, pedindo mais representatividade, começando pela população negra e expandindo para grupos como LGBTQIA+ e PCDs.
Empresas de tecnologia como a Microsoft, na época, se comprometeram a investir em programas que promovessem a diversidade em seus quadros.
No Brasil, grandes companhias seguiram o movimento. Magazine Luiza lançou um programa de trainees exclusivo para pessoas negras, o Nubank promoveu grupos de afinidade para funcionários LGBTQIA+ e PCDs, enquanto o Itaú, Ambev e Natura criaram programas robustos para garantir inclusão e equidade em todos os níveis.
Com tantas iniciativas, parecia que uma mudança empresarial e social significativa estava a caminho. O mercado percebeu rapidamente a importância de se adaptar para permanecer relevante, tanto para clientes quanto para acionistas.
Nesse contexto, o ESG (boas práticas ambientais, sociais e de governança) emergiu como uma das grandes tendências globais nos negócios.
A criação de vagas focadas em ESG cresceu quase 100% em apenas um ano, segundo relatório da consultoria britânica GlobalData, e a presença de talentos com foco ESG saltou 38,5% entre 2015 e 2022, segundo o LinkedIn.
Realidade atual da D&I
Porém, chegamos a 2024, e o que parecia uma mudança sólida começa a mostrar sinais de retrocesso. Em julho desse ano, a Microsoft decidiu encerrar sua equipe de diversidade, equidade e inclusão.
Em um comunicado interno, a empresa justificou a decisão com base em "mudanças nas necessidades de negócios" e destacou que “o tema não é mais crítico para os negócios como era em 2020”, conforme divulgou a Business Insider.
E esse movimento não é exclusivo da Microsoft. O Zoom, por exemplo, demitiu sua equipe de diversidade no início deste ano, segundo a Bloomberg, e tanto o Google quanto a Meta reduziram seus programas de diversidade em 2023, de acordo com a CNBC.
Esse movimento sugere que D&I pode ter sido visto como uma estratégia de marketing e reputação, mais do que um compromisso duradouro.
Aqui no Brasil, a percepção também mudou. Conversei com Suzana Coelho, consultora de Direitos Humanos e CEO do Instituto Afetto, que compartilhou uma visão crítica sobre o cenário atual. Para ela, a pauta de diversidade foi esvaziada nas empresas:
“Trabalhando especialmente com isso, eu acho que a pauta de diversidade e direitos humanos meio que está ficando esvaziada nas empresas. É como se fosse assim: todo mundo criou o comitê, todo mundo criou eventos, todo mundo criou o programa de ações afirmativas e agora parou”, destaca Coelho.
“A sensação que eu tenho é que ‘já deu’, a gente já ficou bem na fita, já mostramos a sociedade que a gente faz coisa bacana, que a gente emprega pessoas negras - que não emprega -, mas agora tá bom. Essa é a sensação que eu tenho, passou aquela onda de falar sobre Equidade, Diversidade e Inclusão”, completa a consultora.
Para muitas empresas, demonstrar compromisso com as práticas de ESG trazia benefícios, como a possibilidade de inclusão em fundos negociados em bolsa (ETFs) e o apelo a pequenos investidores que buscam alinhar seus investimentos com seus valores pessoais.
Em alguns casos, essas iniciativas fortaleceram a reputação das empresas, gerando destaque na mídia e conquistando a aprovação de investidores.
No entanto, essa "corrida pelo ESG" acabou banalizando o termo e desvalorizando seu real impacto.
“Para além dos eventos, para além do Novembro Negro, para além de distribuição de cesta básica, para além de uma horta comunitária, para além disso, sabe? Eu acho que a pauta do S [social], e Governança também, tem muitas coisas que ainda faltam. Então eu acho que está uma pauta limitada e as empresas estão meio perdidas nisso. Todo mundo quer falar de ESG, mas quando você vai na essência muitas pessoas ainda não sabem ou não estão fazendo corretamente o que é previsto na pauta ESG”, opina Suzana Coelho.
E você, acha que Diversidade e Inclusão nas empresas foi só uma moda passageira ou uma transformação real e duradoura?
Por: Antônio Netto
Gerente de Planejamento, liderando estratégias de marketing para o varejo. Com vasta experiência, também sou Professor, mestrando em Administração, e consultor em marketing digital, focado em inovação e prática.
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