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Foto do escritorFreitas Netto

Zuckerberg e a Nova Guerra Fria Digital

Atualizado: há 2 dias



O anúncio feito essa semana por Mark Zuckerberg sobre mudanças nas políticas da Meta, num tom bem passivo-agressivo, não é apenas uma discussão sobre diretrizes internas das plataformas, mas um reflexo de uma geopolítica digital em evolução – e potencialmente perigosa.


As redes sociais há muito tempo deixaram de ser apenas ferramentas digitais de conexão. Elas se integraram profundamente à sociedade, moldando discursos, comportamentos e até mesmo dinâmicas de poder global.


O impacto dessas mudanças vai muito além da esfera digital. Ele atinge diretamente a estrutura social, acentuando as bolhas de informação e reforçando a polarização da sociedade.


E, como já vimos em eleições recentes ao redor do mundo, o que começa como polarização online inevitavelmente se arrasta para as ruas, transformando as redes sociais em catalisadoras de divisões sociais e políticas ainda mais profundas, com riscos graves, inclusive à guerras civis e movimentos antidemocráticos.


Então, vamos tentar entender um pouco mais o que está por trás do comunicado feito pelo CEO da Meta.


Da Moderação Profissional às “Notas de Comunidade”


Uma das principais mudanças anunciadas pelo Zuck foi a substituição das parcerias com institutos de checagem de fatos por um sistema chamado Notas de Comunidade


Inspirado no modelo já usado pelo X (antigo Twitter), esse mecanismo permite que usuários selecionados na comunidade adicionem contexto às postagens.


Embora o discurso oficial do Mark cite a “liberdade de expressão” como justificativa, a decisão levanta sérias dúvidas sobre a eficácia e a imparcialidade dessa abordagem em um ambiente dominado por algoritmos.

Zuckerberg justificou a medida afirmando que “há muita censura e erros nas plataformas” e que a Meta está retornando às suas raízes.


Mas, a redução da moderação de conteúdo e transferindo a responsabilidade para a comunidade, em um ambiente de bolhas algorítmicas, amplificam ainda mais os riscos de desinformação e polarização.


Sem um controle profissional, cresce a disseminação de fake news, discursos extremistas e a erosão da confiança em instituições.


Basta lembrar dessa mecânica que levou ao movimento Terraplanista! Um grupo de pessoas, que se validavam dentro de suas bolhas informacionais e que, simplesmente, descredibilizaram a ciência e órgão como a própria Nasa.


Parecia brincadeira e motivo de dar risada, um grupo de pessoas achar que a terra é plana… até que essa mesma dinâmica começou a se espalhar por assuntos mais sérios, como o movimento anti-vacina, anti-ciência e anti-democráticos.


Aí as pessoas começaram a entender que a coisa ficou séria… e que esse comunicado do Mark Zuckerberg é mais profunda e impactante do que se possa imaginar.


A lógica algorítmica das redes sociais reforça bolhas informacionais, limitando o alcance de visões divergentes e tornando debates genuínos cada vez mais raros.


Zuckerberg pode justificar suas decisões com o discurso da liberdade de expressão, mas os efeitos práticos tendem a ser mais caóticos do que democráticos.


A internet, que já não é mais um espaço de discussão plural, corre o risco de se tornar ainda mais fragmentada e desinformada, um cenário caótico de mentiras, teorias conspiratórias e discursos de ódio!


A redução de custos com moderação e o aumento de engajamento (alimentado pela polarização) são passos para uma estratégia maior.


Em resumo, menos moderação significa mais confusão, que gera mais engajamento – e, por consequência, mais lucro.


Polarização Política e Motivações Estratégicas


Outro ponto crítico do comunicado é o alinhamento explícito da Meta com interesses políticos conservadores nos EUA.


A mudança da equipe de moderação da Califórnia para o Texas, ou seja, a saída de um estado tido como progressista para outro conhecido por seu perfil político conservador, simboliza mais do que uma troca de local: é um gesto claro para agradar uma base política específica e fortalecer a conexão com a agenda de Donald Trump.


Essa guinada fica ainda mais evidente com a decisão do Zuckerberg de retomar as recomendações de conteúdos políticos nos feeds das plataformas, que parece capitalizar a polarização crescente como forma de aumentar o engajamento – e, por consequência, a receita publicitária.


Essa não é apenas uma estratégia comercial, é uma postura geopolítica que reflete o imperialismo digital dos EUA. Ele criticou abertamente os “tribunais secretos” na América Latina e as regulações europeias, se posicionando quase como um defensor de uma visão norte-americana de liberdade contra “interferências estrangeiras”, aproveitando a força protecionista do governo americano para pressionar outros países a adotar políticas menos restritivas às big techs.


A Meta enfrenta desafios significativos fora dos EUA, onde regulações mais rígidas frequentemente limitam sua operação.


Na União Europeia, por exemplo, o órgão regulador de dados impôs à Meta uma série de multas bilionárias, como os € 1,2 bilhão em 2023 por transferências ilegais de dados de usuários europeus para os EUA, e os € 251 milhões em 2024 por expor informações de 29 milhões de usuários.


Esses casos ilustram o conflito constante entre a empresa e legislações locais que priorizam a privacidade e a proteção de dados.


A pressão regulatória não se limita à Europa. No próprio Estados Unidos, a Meta enfrenta barreiras constante, como no caso de 2024, no Texas, onde foi multada em US$ 1,4 bilhão pelo uso indevido de dados biométricos em tecnologia de reconhecimento facial.


E vale também recordar que, em 2018, foi revelado que a Cambridge Analytica, uma empresa de consultoria política, havia coletado dados de milhões de usuários do Facebook, influenciando as eleições norte-americanas e o referendo do Brexit. O Facebook foi multado em US$ 5 bilhões pela Federal Trade Commission dos EUA e enfrentou investigações em diversos países.


Esse contexto de pressão regulatória global e alinhamento político nos EUA destaca a tentativa de Zuckerberg de consolidar a Meta como um aliado estratégico do governo americano, o que pode explicar a tentativa de pressionar governos estrangeiros a adotarem políticas menos rígidas.


E essa tensão é clara: enquanto a Meta tenta moldar o debate global ao seu favor, outros países veem suas práticas como ameaças à privacidade e à soberania.


Ironicamente, essas acusações refletem as preocupações dos EUA com o TikTok, por exemplo, acusado de expor dados de cidadãos americanos ao governo chinês.


Aliás, o exemplo do TikTok é emblemático: a plataforma enfrenta atualmente ameaças de banimento nos EUA sob acusações de comprometer a segurança nacional.


A rivalidade tecnológica entre EUA e China, no entanto, vai além das questões de segurança e revela um movimento de dominação cultural e econômica. É uma grande “Guerra Fria” Digital.


O mundo está vendo nascer uma nova era de imperialismo digital, onde big techs competem não apenas por mercados, mas por influência geopolítica.


As consequências desse movimento ainda estão por vir, mas uma coisa é certa: o impacto será sentido muito além das telas, alcançando as estruturas sociais e políticas que definem nossas vidas!


 

Por: Antônio Netto

Gerente de Planejamento, liderando estratégias de marketing para o varejo. Com vasta experiência, também sou Professor, mestrando em Administração, e consultor em marketing digital, focado em inovação e prática.


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